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SPAC, A SENSAÇÃO DO MOMENTO

Este artigo foi publicado orginalmente no linkedin https://www.linkedin.com/posts/carlos-dariani_spac-%C3%A9-o-hit-do-momento-no-mercado-financeiro-activity-6788440586631294976-cquE

Em épocas de juros baixos e consequente baixa rentabilidade, o mercado financeiro busca novos produtos, revive outros, dando continuidade aos modismos que sempre existiram.

No início deste ano o caso da Gamestop mostrou um movimento de muitos pequenos investidores que, se comunicando pelas redes sociais, manipularam o mercado de ações dos EUA, comprando ações da empresa e inflando, artificialmente, o preço das ações. A empresa que tinha uma avaliação muito ruim dos analistas, afinal ela vende jogos físicos em um mercado que está migrando para o digital e de repente, passou a valer mais de US$ 24 bilhões, mesmo não entregando lucros desde 2019. Isso tem tudo para acabar mal, nas mãos de alguns.

Agora a bola da vez é a SPAC (Special Purpose Acquisiton Company em inglês) também chamada de companhia de “cheque em branco”.

Embora elas existam há muito tempo, agora viraram sensação do mercado, recebendo muitos bilhões de dólares de investimento nos EUA.

As SPACs são empresas de participações, criadas com o único objetivo de levantar recursos para adquirir outras empresas, por meio de um IPO.

Elas levantam recursos no mercado, que confiam nos seus criadores e por sua vez são bancos de investimento, investidores conhecidos e reconhecidos do mercado. Os investidores acreditam que esses players terão sucesso em garimpar no mercado as boas opções para um IPO e antecipam os fundos para isso.

Nos EUA, a regra determina o período de dois anos para que uma SPAC  conclua seu objetivo, ou seja adquirir outra companhia por meio do IPO, caso contrario o fundo se desfaz e os fundos retornam aos investidores

Elas são chamadas de companhias de “cheque em branco” porque o investidor não sabe qual empresa será alvo do IPO, nem seus criadores.

Um IPO normal, demanda que a empresa alvo se prepare para esta etapa, elas precisam ajustar procedimentos, auditar balanços, preparar due dilligence, contratam bancos de investimento e grandes escritórios de advocacia especializados, se ajustam às normas das agências que controlam o mercado de ações como a SEC e a CVM no Brasil e estes trâmites podem levar até 2 anos.

Com as SPACs esse processo é mais rápido, alguns meses, o valor é definido antecipadamente e os fundos já estão disponíveis.

Alguns analistas classificam esse movimento como uma inovação, mas é preciso muito cuidado.

Embora os criadores de uma SPAC sejam, em geral, reconhecidos pelo mercado a operação do IPO fica restrito a eles, suas análises, suas expertises e suas deficiências. A seleção da empresa alvo é exclusiva da SPAC, assim como o valor do IPO e demais condições.

Os “cotistas” da SPAC votam pela aprovação ou não da compra, mas pode ser um processo inócuo, principalmente se há milhares de cotistas sem nenhuma condição de avaliar a compra.

Tudo isso gera certa apreensão, pois não é submetido ao mercado, não recebe críticas e avaliação dos analistas, lembrem do caso da “Wework” e de seu IPO frustrado.

Embora o mercado financeiro seja repleto de profissionais e empresas muito competentes, não podemos esquecer 2008 e a bolha dos derivativos.

Charlie Munger, sócio da Berkshire Hathaway (Warren Buffet), disse em uma entrevista em fevereiro

A especulação louca em empresas que ainda não foram encontradas ou selecionadas é um sinal de uma bolha irritante “,

depois completou,

” Os profissionais de banco de investimento venderão m… se m… for possível de ser vendida.”

As startups e outras empresas com bons produtos e serviços, boa projeção de crescimento e que estejam maduras para um IPO, não são a regra, pelo contrário, são poucas e disputadas.

Como as SPAC tem dois anos para realizar a aquisição, um dos riscos inerentes é fazer a opção por empresas nem tão boas, nem tão preparadas para um IPO para aproveitar a limitação do tempo.

No cenário global de recuperação econômica por conta da pandemia, em ambiente que continua incerto e com a baixa rentabilidade dos produtos financeiros, de forma geral, é natural que alguns busquem segurança e outros ampliem seus riscos por mais retorno, conforme a aversão ao risco de cada um.

No entanto, em qualquer decisão de investimento é preciso conhecer e entender claramente os riscos, por essa razão analisem com cuidado o “hit” do momento, ele pode acabar mal.

Carlos A Dariani – Diretor da Moneyus Consultoria Financeira

Cuidado com a Previdência Privada

Cuidado com a Previdência Privada

Todos que tem pais, avós ou conhecem alguém aposentado pelo INSS sabem da dificuldade que eles passam ao ver seu rendimento sendo corroído ao longo do tempo. Por isso a necessidade de se preparar para não depender exclusivamente do governo. A recente discussão sobre a reforma da previdência acende mais uma luz amarela sobre o tema, certamente as pessoas vão trabalhar mais tempo e se aposentar mais tarde, a reforma é inevitável no curto prazo.

A cada ano que passa a expectativa de vida dos brasileiros aumenta um pouco, devido aos avanços da medicina, qualidade de vida, saneamento básico e outros fatores. Por esta razão, precisamos preparar nossa previdência complementar e não contar unicamente com a aquela do INSS, que é limitada e será corrigida pela inflação, quando muito.

Quanto mais cedo começarmos a nos preparar para esse momento inevitável da aposentadoria, melhor. Quando começamos a reservar uma parte de nosso rendimento aos 20/25 anos temos mais tempo para acumular nossa reserva e podemos contribuir com valores menores. Quanto mais tarde, maior o valor que temos que direcionar para esse fim, pois haverá menos tempo.

Várias pessoas, no entanto, vêm sendo muito mal orientadas pelos gerentes de bancos a fazer Previdência Privada, sem conhecer as vantagens e desvantagens desse investimento e quando descobrem que foram dirigidos a um investimento ruim, há pouco a se fazer.

É preciso entender que o gerente do banco além de cuidar da sua conta é funcionário do banco, tem metas de vendas de seguro, investimento e empréstimo e tem conhecimento limitado sobre os produtos que vende. Ele vai oferecer a você o produto que estiver sendo pressionado a vender e aquele que gera maior comissão, não se engane. É lógico que ele tem algum compromisso com você, mas acredite ele não é seu amigo, não está preocupado com seu futuro e em poucos meses será substituído. É verdade que há exceções, gerentes mais seniores e mais preparados conseguem conciliar essa demanda interna do banco com boas orientações de investimento, no entanto tudo que ele pode oferecer está na prateleira do banco.

Há dois tipos de Previdência Privada vendida pelos bancos a PGBL (Plano gerador de benefício livre) e o VGBL (Vida gerador de benefício livre) cada um deles tem características diferentes. O PGBL oferece uma vantagem fiscal, 100% do montante investido pode ser descontado do seu IR anual até 12% da sua renda. Imagine alguém com rendimento de R$ 100 mil anuais (rendimentos tributáveis) essa pessoa poderá descontar até R$ 12 mil anuais do IR, é um diferimento, uma antecipação que o governo concede para incentivar a investir para sua aposentadoria. No entanto se você investiu R$ 15 mil no ano, uma parte não poderá ser descontada do seu IR anual, você perde a vantagem fiscal e já não é mais atrativo.

Outra característica da Previdência Privada é a forma de cobrança do IR quando houver o resgate e é nesse ponto que as pessoas mal orientadas pelos gerentes dos bancos tomam um susto e muitos frustram seus planos. Há dois tipos de tributação que se pode escolher quando se contrata o Plano de Previdência.

O PGBL oferece duas formas de tributação, a Regressiva Definitiva que vai descontar do valor a ser resgatado de 35% a 10%, conforme o tempo do investimento, mas sobre o total, não apenas sobre o rendimento. Dessa forma se uma pessoa tem R$ 50 mil investidos há mais de 10 anos, quando ela for resgatar sua previdência receberá apenas R$ 45 mil. Outra informação que o gerente do banco não comunica é que esse tempo de investimento é contado da data do depósito.

Uma pessoa vem investindo R$ 1mil reais mensais nos últimos 20 anos e acumulou R$ 240 mil (vamos fazer a conta sem juros para ficar mais claro), nesse caso R$ 120 mil terá alíquota de 10% ou R$ 12 mil, pois estão investidos há mais de 10 anos, os outros R$ 120 mil terão uma alíquota diferente conforme a tabela abaixo:

Prazo                                   Alíquota  IR
Até 2 anos                                    35%
De 2 a 4 anos                              30%
De 4 a 6 anos                              25%
De 6 a 8 anos                              20%
De 8 a 10 anos                            15%
Acima de 10 anos                       10%

A outra forma de tributação é a Progressiva Compensável em que a cada resgate será deduzido 15% de IR sobre o total resgatado e não apenas sobre o rendimento, ainda será necessário informar no ajuste de IR anual e se a pessoa tiver muitas deduções (dependentes, plano de saúde, educação e etc) pode vir a ter uma restituição.
O VGBL tem a tributação igual ao PGBL com a diferença que o IR incide somente sobre o rendimento, não sobre o total investido.

Outro detalhe em relação ao VGBL é que em geral o primeiro resgate somente pode ser feito após 6 meses de capitalização e os demais a cada 60 dias. O VGBL tem uma vantagem no caso de morte do investidor, pois os valores investidos vão para os herdeiros indicados sem passar pelo inventário, facilitando e simplificando a transmissão de bens.

Para os planos há a taxa de administração dos fundos e, além disso, há outro custo adicional que é chamado de taxa de carregamento, geralmente cobrada pelos bancos abaixo de determinado valor investido que é uma cobrança inexplicável e sem sentido, funciona como uma punição quando houver portabilidade ou porque tem um montante menor investido.

Recentemente soube de um caso em que uma pessoa se aposentou e recebeu seu FGTS e a rescisão que somou mais de R$ 200 mil reais. No banco o gerente indicou que o melhor investimento era um PGBL e o investimento foi feito de uma única vez. Essa pessoa continuou trabalhando por mais algum tempo e começou a fazer planos de trocar de casa. Foi verificar seus investimentos e descobriu que o imposto seria enorme sobre o total investido, pois a indicação também foi pelo imposto progressivo e que faltaria recursos para a compra da casa. Essa pessoa não apenas deixou de ter benefícios do diferimento do IR como também foi levado a erro por uma péssima orientação do gerente do banco.

Há várias formas de investir que oferecem rendimentos iguais e maiores que os planos de previdência e que podem ser modelados para as várias necessidades de vida de cada um. A previdência privada não é um mal investimento, mas é preciso conhecê-la e principalmente ser adequada ao seu momento de vida.

A melhor forma de investir, principalmente valores maiores, é consultar um profissional de finanças ou uma consultoria, não seu gerente do banco, poucas horas de consulta podem evitar muitos problemas no futuro.