SPAC, A SENSAÇÃO DO MOMENTO

SPAC, A SENSAÇÃO DO MOMENTO

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Em épocas de juros baixos e consequente baixa rentabilidade, o mercado financeiro busca novos produtos, revive outros, dando continuidade aos modismos que sempre existiram.

No início deste ano o caso da Gamestop mostrou um movimento de muitos pequenos investidores que, se comunicando pelas redes sociais, manipularam o mercado de ações dos EUA, comprando ações da empresa e inflando, artificialmente, o preço das ações. A empresa que tinha uma avaliação muito ruim dos analistas, afinal ela vende jogos físicos em um mercado que está migrando para o digital e de repente, passou a valer mais de US$ 24 bilhões, mesmo não entregando lucros desde 2019. Isso tem tudo para acabar mal, nas mãos de alguns.

Agora a bola da vez é a SPAC (Special Purpose Acquisiton Company em inglês) também chamada de companhia de “cheque em branco”.

Embora elas existam há muito tempo, agora viraram sensação do mercado, recebendo muitos bilhões de dólares de investimento nos EUA.

As SPACs são empresas de participações, criadas com o único objetivo de levantar recursos para adquirir outras empresas, por meio de um IPO.

Elas levantam recursos no mercado, que confiam nos seus criadores e por sua vez são bancos de investimento, investidores conhecidos e reconhecidos do mercado. Os investidores acreditam que esses players terão sucesso em garimpar no mercado as boas opções para um IPO e antecipam os fundos para isso.

Nos EUA, a regra determina o período de dois anos para que uma SPAC  conclua seu objetivo, ou seja adquirir outra companhia por meio do IPO, caso contrario o fundo se desfaz e os fundos retornam aos investidores

Elas são chamadas de companhias de “cheque em branco” porque o investidor não sabe qual empresa será alvo do IPO, nem seus criadores.

Um IPO normal, demanda que a empresa alvo se prepare para esta etapa, elas precisam ajustar procedimentos, auditar balanços, preparar due dilligence, contratam bancos de investimento e grandes escritórios de advocacia especializados, se ajustam às normas das agências que controlam o mercado de ações como a SEC e a CVM no Brasil e estes trâmites podem levar até 2 anos.

Com as SPACs esse processo é mais rápido, alguns meses, o valor é definido antecipadamente e os fundos já estão disponíveis.

Alguns analistas classificam esse movimento como uma inovação, mas é preciso muito cuidado.

Embora os criadores de uma SPAC sejam, em geral, reconhecidos pelo mercado a operação do IPO fica restrito a eles, suas análises, suas expertises e suas deficiências. A seleção da empresa alvo é exclusiva da SPAC, assim como o valor do IPO e demais condições.

Os “cotistas” da SPAC votam pela aprovação ou não da compra, mas pode ser um processo inócuo, principalmente se há milhares de cotistas sem nenhuma condição de avaliar a compra.

Tudo isso gera certa apreensão, pois não é submetido ao mercado, não recebe críticas e avaliação dos analistas, lembrem do caso da “Wework” e de seu IPO frustrado.

Embora o mercado financeiro seja repleto de profissionais e empresas muito competentes, não podemos esquecer 2008 e a bolha dos derivativos.

Charlie Munger, sócio da Berkshire Hathaway (Warren Buffet), disse em uma entrevista em fevereiro

A especulação louca em empresas que ainda não foram encontradas ou selecionadas é um sinal de uma bolha irritante “,

depois completou,

” Os profissionais de banco de investimento venderão m… se m… for possível de ser vendida.”

As startups e outras empresas com bons produtos e serviços, boa projeção de crescimento e que estejam maduras para um IPO, não são a regra, pelo contrário, são poucas e disputadas.

Como as SPAC tem dois anos para realizar a aquisição, um dos riscos inerentes é fazer a opção por empresas nem tão boas, nem tão preparadas para um IPO para aproveitar a limitação do tempo.

No cenário global de recuperação econômica por conta da pandemia, em ambiente que continua incerto e com a baixa rentabilidade dos produtos financeiros, de forma geral, é natural que alguns busquem segurança e outros ampliem seus riscos por mais retorno, conforme a aversão ao risco de cada um.

No entanto, em qualquer decisão de investimento é preciso conhecer e entender claramente os riscos, por essa razão analisem com cuidado o “hit” do momento, ele pode acabar mal.

Carlos A Dariani – Diretor da Moneyus Consultoria Financeira